Dose de Saúde SCI – Edição #2 – Robôs-Cirurgiões e a evolução da medicina
Publicado em 01/12/2021. Atualizado em 28/09/2023 11:15:27
Por AFONSO PAULO ALMEIDA MAGALHÃES NETO (*) | MÉDICO ORTOPEDISTA DO HOSPITAL SÃO LUCAS
Há exatos 36 anos, entrava em cena o Programmable Universal Machine for Assembly, ou simplesmente PUMA, primeiro sistema robótico que se tem notícia utilizado em procedimentos em humanos. De 1985 até hoje, as tecnologias na área da saúde se multiplicaram e os chamados robôs-cirurgiões têm sido cada vez mais comuns nas salas de operações.
Mas como anda a evolução dessas máquinas? Respondemos essa e outras dúvidas no podcast Dose de Saúde SCI, que traz o tema “Robô Rosa e a evolução das cirurgias ortopédicas”. Ouça no Spotify ou Youtube!
No Brasil, esse tipo de procedimento chegou alguns anos depois, em 2008, com a primeira operação sendo realizada na cidade de São Paulo. Em Minas Gerais, a tecnologia começou a ser aplicada em 2016, porém era limitada a algumas especialidades. Em 2021, a medicina robótica abre uma nova oportunidade, com a chegada do Robô Rosa Knee, especializado em procedimentos ortopédicos, mais especificamente na artroplastia total do joelho. O serviço é oferecido pelo Hospital São Lucas.
As vantagens das cirurgias robóticas em comparação às operações convencionais são inúmeras. Ao cirurgião, apresenta informações adicionais que ajudarão no posicionamento mais personalizado dos implantes. Isso possibilita tratar de anomalias no alinhamento, determinando as ressecções com base no tecido mole e na anatomia óssea de cada paciente, mas sem retirar o controle do cirurgião no procedimento.
Ao paciente, com a maior precisão e personalização da cirurgia, aumenta a exatidão dos cortes ósseos e o equilíbrio das partes moles. Assim, melhora a função do joelho, a satisfação pós-operatória e, em tese, a longevidade do implante.
No passado, talvez os mais céticos duvidassem que a cirurgia feita por robôs se tornaria uma realidade cada vez mais concreta. Isso pode ser resultado de pensamentos mais conservadores ou mesmo de um receio – ainda que inconsciente – de que as máquinas tomassem o lugar dos profissionais, o que é uma fálica. Os robôs atuais, como o Rosa Knee, provam que, mais do que nunca, os médicos continuam sendo a cabeça pensante e os grandes responsáveis pelo sucesso de qualquer caso cirúrgico.
Atualmente, todas as aplicações robóticas ortopédicas existentes no mercado usam rastreamento óptico, que é uma tecnologia intraoperatória que permite ao robô “assistir” ao movimento e identificar pontos de referência no joelho. O ROSA Knee usa um braço de alta precisão, o que possibilita o acompanhamento ósseo ativo e mais preciso, em comparação aos instrumentos padrão.
Em matéria de custo, o sistema robótico Rosa não tem grande impacto no aumento do preço da cirurgia, inclusive porque usa os mesmos implantes da cirurgia convencional.
É animador perceber o crescente número de médicos abertos às novas tecnologias robóticas. É fundamental haver mais profissionais capacitados para lidarem com essas inovações. Quanto mais evoluirmos nesse sentido, mais rápidos e mais significativos serão os investimentos na área.
Um bom termómetro que comprova a eficiência dos procedimentos realizados por meio de robôs é o retorno dado por quem sente na pele os seus efeitos. Com mais qualidade e segurança antes, durante e depois das intervenções, não é de se estranhar que os relatos de satisfação dos pacientes sejam cada vez mais numerosos.
É fato que estamos avançando no uso e no desenvolvimento constante de novas tecnologias robóticas na área da saúde. Hoje, o Brasil é o país que mais realiza procedimento com o auxílio de robôs na América Latina e Minas Gerais ocupa o terceiro lugar no ranking nacional (considerando só a robótica ortopédica, o estado aparece na segunda posição), mas ainda há muito a ser explorado e reinventado, e a aquisição do Robô Rosa Knee, pelo Hospital São Lucas, mostra que há muita vontade de se navegar por esse mar tecnológico. Os robôs-cirurgiões são uma realidade que salta aos nossos olhos. O “futuro” já faz parte do nosso presente e, certamente, é um caminho sem volta.
(*) Especializado em joelho e mestre em ciência da saúde